terça-feira, 28 de julho de 2009

Um dia eu resolvi morrer, quanto tempo faz, isso já não é mais tão importante. Quando descidi que eu precisava dar um fima minha vida, mal eu sabia que daria fim a ela várias vezes.
Morri muitas vezes e em cada uma delas, como que por azar, resurgi das cinzas como a fenix.
E era só um fim que eu queria, mas nem isso eu soube fazer direito.
Minha primeira morte, sem eu saber ao menos o que era vida, foi ao nascer. Essa é uma morte que todos temos, mesmo sem escolher. Nasci cheio de vida e a caminha da morte, cada dia um pouco de vida a menos, cada hora que eu vivia era uma hora mais próximo da morte.
Meus primeiros contatos sociais, eram suicidas. Eu implorando até então por viver e todos me matando com suas atitudes. Infância sofrida, cheia de preconceitos e barreiras, agora você esta pensando, que sujeito idiota, todo mundo acha que a própria infância foi algo do tipo. Talvez seja assim pra todos, mas pra mim isso era questão de honra. Apanhar por ser diferente, ser rejeitado, taxado, criticado, isolado e o escambal a quatro.
Era pra eu ter crescido uma pessoa mais esperta, mais cautelosa. Os acontecimentos deveriam ter me feito mais forte, mas ao contrário do que dita as regras, eu cresci, fraco, cansado, melâncolico e burro.
Quando eu soube que era preciso morrer, já tinha idade suficiente pra conseguir, mas não tinha coragem pra isso.
Minhas mortes foram tomando formas, cores, definições e focos. Morria por pouco ou por nada. Morria por acreditar, morria por doar, morria até quando não era necessário morrer.
Com o tempo até viver era igual a morte.
Minha covardia de executar minha vontade sempre foi grande, tentei a morte de maneiras sutis, porém não fizeram efeito. Não o efeito que eu precisava. Resolvi beber, fumar, não dormir e chorar. Mas a bebida era lenta demais e minha paciência com a vida não era tanta. O cigarro me mataria, mas antes eu teria que sofrer, um pouco mais. Cada noite não dormida era um dia a menos de vida, já deixei de dormir mais de 356 noites e até hoje nada. Chorar tiraria toda a água do meu corpo e me daria cede e eu covardemente iria abrir a primeira torneira que visse pra saciar minha cede.
De tanto calcular minha morte fiquei cego. Não via que a solução estava na minha mãos.
Eu só precisava amar e isso é coisa que faço bem.
Resolvi então dar ouvidos ao meu coração, afinal de contas a razão não é meu forte. E a partir de então amei. Como não fizera até então. Amei como se fosse a ultima coisa que fosse fazer. Amei, tanto que percebi que já não era mais preciso morrer. Porém eu já havia envenenado meu corpo.
Já tinha encontrado o caminho da morte.
Meu amor se separou do meu coração. Agora sou apenas carne e osso, esperando a morte chegar.
Sinto cada minuto um pouco da minha vida se esvaindo de mim. Sinto cada gota de vermelho que se torna aos poucos turva e negra.
Sinto cada molécula que um dia teve vida, ser destruida pelo amor que eu deixei tomar conta do meu corpo.
Como em um jogo, cada célula era atingida por um projétil. Cada pedaço de mim era esvaziado de mim mesmo e preenchido com aquilo que se todos chama amor.

2 comentários:

breiner disse...

esse texto é seu ou da Clarice Lispector? Me lembra ela...E não me soa estranho.

Breiner disse...

ah é seu mesmo né? Não achei nada igual na net...Muito bom, adorei mesmo seu texto.